Outra praia, outro descobrir.
Um índio que até então nem sabia que era índio, estendeu a mão e
ofereceu a Cristóvão Colombo um tomate.
- Um pomo d’oro – exclamou o almirante, confundindo o fruto que
brilhava ao sol novo da América com uma maçã selvagem. Depois examinou
o fruto mais de perto e perguntou: – Para que serve?
- Saladas – respondeu o índio – Refogados, molhos – continuou.
- Para o espaguete! – exclamou Colombo, compreendendo por que o
destino o trouxera até ali. Lembrando que seu nono, em Gênova, vivia
elogiando Marco Polo por ter trazido o espaguete do Oriente e sua nona
dizendo que sim, o espaguete era bom, mas faltava alguma coisa. Sua
missão estava revelada: numa só viagem superara o Marco Polo do nono e
descobrira o que faltava na macarronada da nona. Ficou com o tomate.
- O que você me dá em troca? – quis saber o índio.
Não se sabe a língua que falavam. A linguagem mágica dos grandes
encontros. Não interessa.
- Dou em troca um dos produtos supremo da nossa civilização, uma
preciosidade. Um dos frutos da indústria que em breve chegará aqui e
transformará este mato em outra Europa. – E Colombo deu uma miçanga ao
índio.
Colombo perguntou que outra novidade o índio tinha para lhe dar. E o
índio ofereceu uma batata.
- O que faremos com isso? – perguntou Colombo, olhando a feia batata
com pouco entusiasmo.
O índio descreveu o futuro da batata, desde a sua importância na
alimentação dos camponeses europeus em fomes ainda por vir até a
noissete e as fritas. E Colombo botou a batata na algibeira e deu em
troca uma moedinha de valor tão baixo que em vez da cara mostrava o
joelho do rei.
O que mais o índio tinha para lhe dar?
O fruto do cacaueiro de onde sairia o chocolate. O índio descreveu o
significado do chocolate para a história do mundo, especialmente na
Suiça e na Bahia; e como seriam os bombons e as barras recheadas com
avelãs e, suspeita-se que tenha mencionada até a musse. E Colombo
trocou o cacau por um espelhinho.
Que mais?
Fumo! Em breve todos estariam experimentando as delícias do tabaco e o
novo hábito dominaria o mundo. E, para quem quisesse um barato ainda
maior, o índio incluía a planta da coca junto com a planta do fumo em
troca das contas que Colombo lhe oferecia.
Que mais?
Milho, aipim, um papagaio…
- E isso que você tem no nariz? – perguntou Colombo, apontando para a
argola de ouro.
- O que você dá em troca?
Colombo ofereceu miçangas, que o índio não quis. Outra moedinha.
Comprimidos. Vale-transporte. Finalmente apontou sua pistola para a
cabeça do índio e disse: – Isso! – E disparou. Depois deu ordens a
seus homens para recolher todo o ouro à vista, mesmo que tivesse que
trazer os narizes juntos.
Do chão, antes de morrer, o índio amaldiçoou Colombo e praguejou:
- Que a batata tornasse a sua raça obesa, que o chocolate enchesse as
suas artérias de colesterol, que o fumo lhe desse câncer, que a
cocaína o enlouquecesse e que o ouro destruisse a sua alma. E que o
tomate – pediu o índio aos céus, com seu último suspiro – se
transformasse em ketchup; e molho enlatado sem graça que estragasse o
espaguete para todo o sempre.
E assim aconteceu. (atribuida a Luis Fernando Veríssimo)
Um índio que até então nem sabia que era índio, estendeu a mão e
ofereceu a Cristóvão Colombo um tomate.
- Um pomo d’oro – exclamou o almirante, confundindo o fruto que
brilhava ao sol novo da América com uma maçã selvagem. Depois examinou
o fruto mais de perto e perguntou: – Para que serve?
- Saladas – respondeu o índio – Refogados, molhos – continuou.
- Para o espaguete! – exclamou Colombo, compreendendo por que o
destino o trouxera até ali. Lembrando que seu nono, em Gênova, vivia
elogiando Marco Polo por ter trazido o espaguete do Oriente e sua nona
dizendo que sim, o espaguete era bom, mas faltava alguma coisa. Sua
missão estava revelada: numa só viagem superara o Marco Polo do nono e
descobrira o que faltava na macarronada da nona. Ficou com o tomate.
- O que você me dá em troca? – quis saber o índio.
Não se sabe a língua que falavam. A linguagem mágica dos grandes
encontros. Não interessa.
- Dou em troca um dos produtos supremo da nossa civilização, uma
preciosidade. Um dos frutos da indústria que em breve chegará aqui e
transformará este mato em outra Europa. – E Colombo deu uma miçanga ao
índio.
Colombo perguntou que outra novidade o índio tinha para lhe dar. E o
índio ofereceu uma batata.
- O que faremos com isso? – perguntou Colombo, olhando a feia batata
com pouco entusiasmo.
O índio descreveu o futuro da batata, desde a sua importância na
alimentação dos camponeses europeus em fomes ainda por vir até a
noissete e as fritas. E Colombo botou a batata na algibeira e deu em
troca uma moedinha de valor tão baixo que em vez da cara mostrava o
joelho do rei.
O que mais o índio tinha para lhe dar?
O fruto do cacaueiro de onde sairia o chocolate. O índio descreveu o
significado do chocolate para a história do mundo, especialmente na
Suiça e na Bahia; e como seriam os bombons e as barras recheadas com
avelãs e, suspeita-se que tenha mencionada até a musse. E Colombo
trocou o cacau por um espelhinho.
Que mais?
Fumo! Em breve todos estariam experimentando as delícias do tabaco e o
novo hábito dominaria o mundo. E, para quem quisesse um barato ainda
maior, o índio incluía a planta da coca junto com a planta do fumo em
troca das contas que Colombo lhe oferecia.
Que mais?
Milho, aipim, um papagaio…
- E isso que você tem no nariz? – perguntou Colombo, apontando para a
argola de ouro.
- O que você dá em troca?
Colombo ofereceu miçangas, que o índio não quis. Outra moedinha.
Comprimidos. Vale-transporte. Finalmente apontou sua pistola para a
cabeça do índio e disse: – Isso! – E disparou. Depois deu ordens a
seus homens para recolher todo o ouro à vista, mesmo que tivesse que
trazer os narizes juntos.
Do chão, antes de morrer, o índio amaldiçoou Colombo e praguejou:
- Que a batata tornasse a sua raça obesa, que o chocolate enchesse as
suas artérias de colesterol, que o fumo lhe desse câncer, que a
cocaína o enlouquecesse e que o ouro destruisse a sua alma. E que o
tomate – pediu o índio aos céus, com seu último suspiro – se
transformasse em ketchup; e molho enlatado sem graça que estragasse o
espaguete para todo o sempre.
E assim aconteceu. (atribuida a Luis Fernando Veríssimo)
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