terça-feira, 29 de janeiro de 2013

HIPOCONDRÍACA CIBERNÉTICA



HIPOCONDRÍACA CIBERNÉTICA

Cansada de sofrer à beira da Internet, a hipocondríaca cibernética decidiu ir ao médico e implorar por um tratamento eficaz para tantas intempéries. 

– Doutor, estou bastante doente. 
– O que você sente?
– Palpitações no peito, dormência nas mãos e pés, tonturas. É sopro no coração. 
– Você mesma se diagnosticou?
– Não, pesquisei no Google. Também estou com hipotireóide. Unhas e cabelos fracos, ganho de peso, fadiga em excesso. 
– Você chegou a fazer algum exame de sangue que comprove essa dedução?
– Não, mas os sintomas batem com os do Google. Não é dedução, é lógica. 
–  Fale mais sobre isso. 
– Dor de cabeça, visão embaçada, apagões. 
–  Apagões?
–  Sim, quando fica tudo preto de repente. Depois volta ao normal. Rompantes de enxaqueca com aura. 
– Você também tem enxaqueca com aura?
–  Sim. Primeiro suspeitei de aneurisma cerebral, mas consultando daqui e dali descobri que estava enganada. 
–  Consultando médicos?
–  Não, o Google. 
– Vamos fazer alguns exames, mas aparentemente seu quadro é psicossomático. 
–  Vocês médicos e essa mania de psicossomático. Eu estou em frangalhos, doutor. 
–  É estafa. Você vive na gandaia. Só almoça em franquias fast food, exagera na bebida. O que você chama de apagão, eu chamo de embriaguez. Para cada desilusão amorosa, um pote de sorvete. Cinco tentativas de largar o cigarro frustradas pela ansiedade de engordar. A balada com as amigas prejudica seu trabalho, é uma bola de neve. Aliás, convenhamos, a Carlinha não é uma boa companhia, ela induz você aos maus hábitos.
–  Doutor, como você sabe de tudo isso? 
– Seu mural do Facebook é de arrepiar. Achei você no Google.

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